O Governo aprovou ontem, em Conselho de Ministros, a proposta de lei para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Finalmente. Juntamente com o referendo sobre o aborto, esta foi uma das discussões mais aborrecidas que tivemos de suportar. Ainda bem que isto acabou e dou as boas-vindas aos casais homossexuais ao fascinante mundo do matrimónio. Próxima etapa: convencer as confissões religiosas tradicionais que uma pessoa também pode amar alguém do mesmo sexo e amar a Deus ao mesmo tempo. Vai ser difícil, mas não desesperem. O tempo dá sensatez a toda a gente. Mas antes de conquistar o mundo monoteísta, há ainda outras batalhas a ganhar. Por exemplo, a adopção, que, embora não perceba por quê, não está incluída no pacote casamenteiro. O diploma exclui a possibilidade de estes casais poderem adoptar crianças. É aberrante pensar que o Estado autoriza duas pessoas a contrair os laços do casamento na condição de estarem proibidos de adoptar crianças. Se ante a lei é um casamento, este deve incluir todos os deveres e direitos, senão não é um casamento. É uma espécie de associação legal similar a um negócio ou a uma empresa qualquer. Se eu fosse o deputado Miguel Vale de Almeida, cara visível da comunidade atingida por esta lei, revoltava-me e sugeria que guardassem esta lei nas intimidades dos deputados que a redigiram. A história da humanidade foi feita com filhos de heterossexuais. Já tivemos de tudo: boas pessoas, sádicos, místicos, fanáticos, valentes e cobardes. Quem julgue que um casal homossexual pode criar alguma coisa diferente do que já conhecemos está enganado. Mas se por acaso um tal casal produzisse um espécime humano diferente, não teria nada contra. Pior do que tivemos até agora é que é impossível. Fora isso, tudo bem.