Foi um êxito a manifestação convocada pelo Partido Comunista Português no sábado passado. Nada menos que cinquenta mil pessoas e sem a ajuda da APU nem da CDU nem dos verdes nem nada. Só comunistas. Os observadores políticos acharam que o sucesso do PCP deveu-se ao protesto estar dirigido contra a política social de educação, saúde e emprego do governo. Eu discordo completamente. E a minha discordância tem bases sociopolíticas rigorosas. A quantidade de autocarros estacionados perto da terminal de comboios de Santa Apolónia fez-me pensar que muito boa gente comunista não vive Lisboa. Depois, reparem no percurso. O ponto de encontro foi na janota praça do Príncipe Real. Todos juntos desceram a tradicional rua do Século até ao belo palácio Ratton que alberga o não menos badalado Tribunal Constitucional. Ali exibiram os seus cartões partidários. Logo continuaram a descer pelo pitoresco Bairro Alto, que por acaso está cheio de tascas e restaurantes para todos os gostos e bolsos. Chegaram ao memorável Largo do Carmo, ao lindamente restaurado Chiado com os seus afamados cafés onde se destaca a Brasileira. Não esqueçamos as livrarias, abertas aos sábados das quais se distingue a Fnac com os seus preços populares. A seguir continuaram a descer até ao Rossio que dispensa apresentações. Repeti o verbo “descer” porque mostra a delicadeza do Comité Central ou do comité organizador de protestos do Partido. Seja quem for, preocupou-se que os manifestantes não tivessem que galgar para cima o caminho da revolta. Galgaram sempre para abaixo. E sempre num dos mais belos passeios que alguém pode dar por essa maravilhosa Lisboa. Eis, meus amigos, o segredo do sucesso da manifestação. O PCP inaugurou o protesto turístico. Gostaria que a próxima manifestação em Lisboa fosse em Alfama, onde há umas tasquinhas muito jeitosas. Fora isso, tudo bem.