Terça-feira, 8 de Junho de 2010

O primeiro teste de paternidade anónimo, feito sem a mediação de profissionais de saúde, já está a ser vendido, de forma livre, nas farmácias. Não sei se esta notícia é boa ou má. Dependerá, obviamente, dos resultados e se coincidem ou não com os desejos dos clientes. Felizmente, não é de borla. Todos sabemos que quando o consumo seja do que for é gratuito, é um convite aos excessos. Os bares abertos fazem mais pelo aumento da cirrose na população que toda uma destilaria de uísque. O preço é 250 euros. O que significa que só quando alguém quiser mesmo, mas mesmo, saber a verdade sobre a paternidade ou, porque não, a maternidade do suspeito, será capaz de desembolsar tal soma. Há problemas legais claros. A recolha de amostras em menores, sem o consentimento do pai e da mãe, pode significar um desrespeito pela lei. Suponhamos que um putativo pai faz a recolha e prova que não é o pai. Passa saber a verdade mas cometeu uma ilegalidade. Não sei qual poderá ser a pena por fazê-lo, mas pelo sim, pelo não, talvez seja preciso saber se vale a pena saber a verdade. Também não se podem recolher materiais biológicos, como sangue, urina ou saliva sem que a pessoa a quem o material é recolhido dê o seu consentimento expresso. Se eu fosse a criança em questão e não quisesse mudanças familiares por estar conformada com aquilo que me tocou como progenitores, negava-me a colaborar. Por outro lado, não devemos sobrestimar a verdade. Não concordo com a afirmação dos responsáveis pela colocação deste produto no mercado. Dizem que o objectivo "não é criar inquietações ou dúvidas, mas sossegá-las". "As dúvidas, essas, já existem e são sempre mais prejudiciais e perniciosas porque são latentes, duram muito tempo, e fazem muito pior do que as certezas, sejam elas quais forem. Boas ou más." Estas afirmações, além de perigosamente falsas, contradizem o dia-a-dia dos portugueses. É uma realidade para todos nós que nem com uma comissão parlamentar se consegue apurar a verdade de nada. O que é bom. Com a dúvida conseguimos viver. Com as certezas, não sabemos onde vamos parar nem quem vai acabar por ser o nosso parente. Além de que convocar eleições agora está fora de questão. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:46

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