Terça-feira, 6 de Julho de 2010

Quando se tornam públicas as trafulhices dos governantes, dos políticos ou seja de quem for que por causa do seu cargo deve ser honesto e responsável, nacionalizamos imediatamente a desonestidade e o mau exemplo. Só em Portugal acontece isto. Se fosse na Suécia ia logo para a prisão, mas claro, na Suécia quase não há portugueses e assim por diante. Não é preciso mencionar que também é sabido que em Portugal não há incompetentes mas pessoas com má sorte. Os erros cometidos pelos profissionais devem-se a uma infeliz reunião de factores, mas que se está a trabalhar nesse sentido. Ou seja, no sentido de evitar que estes factores imponderáveis passem a ser ponderáveis a partir de agora. Isto explica que neste país a culpa não se casa com ninguém e, naturalmente, não pode outra coisa a não ser morrer solteira. Não digo que estas conclusões sejam totalmente falsas. Só digo que não são só portuguesas. Quando os americanos invadiram o Iraque, fizeram-no com a eficiência americana. O que veio depois foi um desastre tão grande que muitos pensaram que as tropas invasoras tinham sido substituídas por portugueses. Não é verdade. Os americanos foram a pior força de ocupação desde Gengis Khan, que, como sabem, não ocupava. Só passava por cima e não pensava mais no assunto. Temos outro exemplo recente de irresponsabilidade, incompetência e talvez corrupção, em que não há portugueses envolvidos, mas que certamente alguns derrotistas gostariam de nacionalizar. O líbio Abdelbaset Ali Mohamed al-Megrahi foi condenado a prisão perpétua pelo atentado bombista de Lockerbie, em 1988, em que morreram 270 pessoas. Foi libertado pelo governo escocês porque o oncologista que o assistiu diagnosticou que tinha três meses de vida. O cancro da próstata estava numa fase terminal. Apesar dos protestos dos familiares das vítimas foi enviado para a Líbia para morrer rodeado de entes queridos e vivos familiares. Isto foi há um ano. Agora o Dr. Karol Sikora, o tal oncologista, admite que se enganou. Que talvez os líbios tenham gasto o inimaginável em tratamentos sofisticados e que agora o terrorista pode chegar a viver mais dez ou vinte anos. Apesar de todas estas asneiras, ainda não vi nenhum jornal inglês ou escocês a dizer que só “neste país pode acontecer uma coisa destas”. Das duas uma, ou o mundo é português ou os portugueses são como o mundo. Entretanto, graças esta miraculosa recuperação do Megrahi, passámos a saber que os médicos líbios são do melhor que anda por aí. E então no que se refere ao cancro da próstata, são génios. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:24
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