Sexta-feira, 17 de Setembro de 2010

Há não muito tempo condenavam os videojogos porque eram maléficos para as crianças. Dizia-se que os videojogos sanguinários, onde quanto mais se matava, muitas vezes de forma escandalosamente violenta, mais se ganhava, podia criar uma geração de psicopatas. A violência virtual podia ser uma antecâmara para a violência real. Esta perspectiva moral convenceu muito boa gente de que os tais videojogos deviam ser banidos. Agora está provado que as criancinhas outrora viciadas em assassinar soldados, monstros, atropelar mulheres, ganhar pontos a triplicar por matar pretos, árabes ou americanos, por decapitar ganhar mais uma vida… Ora, dizia que está provado que estas criancinhas estão mais bem preparadas que as outras. Muito mais que aquelas crianças que foram proibidas de brincar a matar ou a evitar ser apanhadas pelo homem com a motosserra. Os jogos violentos desenvolvem a inferência probabilística. Dito de outra maneira, é o que fazemos quando conduzimos e tomamos decisões repentinas para não nos estamparmos com o carro. Mas o ponto mais importante da nova opinião sobre os efeitos destes jogos é termos passado de uma duvidosa valorização moral para uma valorização de aptidões. Matar aqueles milhares de criaturas ou escapar a centenas de monstros durante a infância produz adultos capazes de tomar decisões rápidas e, na maior parte dos casos, certeiras. Não é a primeira vez que na história da humanidade uma nova actividade ou nova ocupação passa de diabólica a proveitosa ou frutífera. Se eu fosse um sábio chinês diria que a chuva é boa desde que não inunda a casa ou qualquer fruto que se coma antes de amadurecer dá diarreia. Não devemos formar uma opinião apressada. O que é mau hoje pode ser bom amanhã. Talvez, de futuro, tenhamos mais surpresas, como descobrir que não há nada melhor para a saúde que a carne vermelha; que o colesterol é óptimo contra o cancro; que os toxicodependentes são uns visionários porque a vida não é mais que um parêntesis entre o nada e o nada; ou que tanto faz quem ganha as próximas eleições presidenciais, porque é igual ao litro. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:01
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