Nesta época de crise, as ideologias dominantes já não se podem dividir entre a Esquerda e a Direita. Esta maneira de ver o panorama político passou a estar desactualizada. Isto não tem nada que ver com a morte das ideologias, até porque se tivessem morrido não havia em Portugal dinheiro para as enterrar. É por isso que ainda não as matámos. É precisamente essa falta de cacau que divide e ilumina as grandes facções políticas que coabitam irreconciliavelmente em Portugal. Agora o país está dividido entre forretas e mãos-largas. À frente do grupo dos mãos-largas encontramos o nosso Primeiro-ministro, José Sócrates. Este movimento esbanjador quer fazer grandiosas obras públicas para cumprir o destino traçado pelos nossos antepassados para Portugal. Do outro lado temos os poupadinhos, liderados pela sovina-mor, Manuela Ferreira Leite. Estes irredutíveis forretas não querem desestabilizações financeiras. Acham que o tal destino traçado pelos nossos gloriosos antecessores se resume ao lema: “Quem não deve, não paga ou não teme” ou alguma coisa assim. Ao contrário do povo português, que vive o fim do mês com a crónica angústia da penhora, não querem cá dessas chatices. Não deixa de ser curioso que tendo as mulheres fama de perdulárias, seja logo uma senhora a liderar o movimento dos avarentos. Será que o grupo dos mãos-largas é composto por homens que não têm medo de assumir o seu lado feminino? É provável. Mas deixo as interpretações freudianas para os especialistas que escrevem na Revista Maria ou coisas parecidas. O importante nestas horas difíceis é não cair na tentação fácil de reduzir a vida a questões edípicas que só complicam. Não percamos a calma. Esbanjamento ou frugalidade: eis o debate. ‘Bora ao Gambrinus discutir o tema. Fora isso, tudo bem.