Como provavelmente já sabem, Portugal vai apresentar no início de 2010 a candidatura do fado a Património Imaterial da Humanidade. Esta iniciativa foi anunciada pelo embaixador de Portugal na UNESCO, Manuel Maria Carrilho, que acredita que esta nomeação será aprovada em 2011. Como também devem saber, o tango foi recentemente designado Património Imaterial da Humanidade. Mas isso não me conforta e explico porquê. Esta designação pretensiosa, Património Imaterial da Humanidade, faria algum sentido se visasse proteger expressões culturais em perigo de extinção, e isto no caso de serem tradições que valesse a pena preservar. Quando vemos a lista do que foi designado como tal, há realmente muita coisa em vias de extinção como o duduk, um oboé arménio, ou a isopolifonía popular albanesa. Por outro lado, tenho alguma dificuldade em compreender como é que o tango está a agonizar como estes elementos culturais. Por outro lado, é importante informar de que a Unesco, quando designa o tal património, não só não dá nada a ninguém como obriga cada Estado a adoptar as medidas necessárias para salvaguardar o património no seu território. A Unesco de tonta não tem nada. Isto significa que agora ou o Estado albanês ajuda os isopolifónicos ou está feito. E cuidado, arménios, estejam vocês onde estiverem. Se não protegerem o duduk, levam com ele nos cornos. É por estas e por outras que estou preocupado com a proposta de o fado ser designado Património Imaterial da Humanidade. Para já, que seja decidido em 2011, parece-me prematuro. Antes de mais devemos ser nós a decidir se queremos mesmo que assim seja. Segundo, queremos estar na mesma lista que o hudhud, uma tradição de cantos narrativos da comunidade ifugão, nas Filipinas? Não me parece. Terceiro, queremos que o governo português ceda a pressões estrangeiras para promover e proteger o fado? De maneira nenhuma. Por mim, agradeço, mas quero que o nosso fado continue como está. Se morrer, que morra nos nossos braços. Fora isso, tudo bem.