Segunda-feira, 5 de Abril de 2010

Lembro-me de há algumas décadas viver sozinho e triste. Foram tempos duros mas como homem com convicções suportava as contrariedades sem me queixar. Só tinha um problema grave, que era nunca me lembrar de estar preparado para o fim-de-semana e feriados. O descuido de não ter nada que se bebesse ou comesse em casa trouxe-me todo tipo de dissabores. Estragava-me as finanças porque tinha de ir comprar bebidas a um bar ou comer obrigatoriamente em lugares que estão abertos aos domingos. Lugares que, curiosamente, são sempre os mais caros. Também tive desilusões afectivas. Quem seria de capaz de ficar a tomar chá a um sábado à noite em minha casa? Nem eu ficava. As raparigas podiam achar graça ao meu frigorífico deserto, sem essas bolachinhas de que elas tanto gostam. Mas eu sabia que nunca mais voltariam. Anos depois, com a democracia, a Europa e tal, tudo mudou. Já não era só o Imaviz ou o Apolo 70 que estavam abertos aos domingos. Começou a haver supermercados. A vida foi outra. A abertura de hipermercados enormes e exuberantes foi a salvação das famílias portuguesas. Quantos maridos extenuados ao fim de uma semana de trabalho conseguiram finalmente estar um bocadinho com os seus filhos acordados e a mulher arranjada a não ser aos domingos no Continente? Quantas reconciliações testemunhou o Jumbo? Quem não achou que a vida podia melhorar a partir da primeira vez que foi a um Lidl? Fico contente também pelos jovens irresponsáveis, que se esquecem de preparar as suas casas para um fim-de-semana triste e solitário ou até nem por isso. Agora podem emendar os erros da semana. Mas parece que não por muito tempo. Há partidos aliados com interesses financeiros obscuros que querem encerrar obrigatoriamente os encantadores supermercados aos domingos à tarde. O que irá acontecer com as boas e saudáveis famílias portuguesas? A Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição considera o encerramento obrigatório dos hipermercados e outras lojas a também a atirar para o grande, uma medida que “não faz nenhum sentido” e de “carácter reaccionário”. Eu concordo. E digo mais. Por mim, desde que não façam muito barulho, tudo quanto é loja e serviços podiam estar abertos 24 horas. Tribunais, Finanças e Lojas do Cidadão incluídos. Só pode fazer bem a todos. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:31
Comentar

Arquivo do blogue
Subscrever feeds
blogs SAPO