Quarta-feira, 7 de Abril de 2010

Depois do encerramento do Serviço de Atendimento Permanente em Valença, a população começou a ir ao Centro de Saúde da vizinha Tui, em Espanha, que fica a menos de cinco minutos e onde não se pagam as taxas moderadoras. O alcaide galego até mostrou a intenção de reforçar o pessoal médico e de enfermagem se a afluência de doentes portugueses o justificasse. Os valencianos – suponho que assim se chamam aqueles oriundos de Valença – como prova de gratidão e, já agora, de protesto contra a decisão do governo de fechar o Serviço de Atendimento, colocaram bandeiras espanholas nas casas e nos estabelecimentos comerciais. Dizem que o fecho do serviço se deveu a uma vírgula maldosamente esquecida. A média oficial de utilizadores das Urgências era 1,7 quando, segundo as autoridades de Valença, eram 17. Aparentemente a população ficou a ganhar já que os serviços de saúde em Tui são mais baratos. E não devemos descuidar o efeito afectivo. Tenho a certeza de que são muito bem tratados. Quem não trataria bem as pessoas bem-educadas que vêm do outro lado da fronteira porque foram abandonadas pelo próprio governo? Mas nem tudo é uma vergonha. O facto de este procedimento de solidariedade sanitária ser fácil deveu-se à União Europeia. Embora não tenha dúvidas de que sem ela também teria existido. Outra vergonha pode ainda acontecer. Um movimento separatista valenciano não é de todo impossível e é totalmente compreensível. O problema é que o exemplo se estenda a todo o território português perto da fronteira. O procedimento é fácil. Basta mudar uma vírgula nas estatísticas dos utentes nas Urgências. A eficiência burocrática e a miséria do Ministério da Saúde fazem o resto. O Serviço de Atendimento Permanente lá do sítio rapidamente é fechado. Protesta-se e começa-se a ir a Espanha procurar cuidados médicos. Agradece-se com bandeiras. Os espanhóis choram comovidos e… olha! mais uma população anexada voluntariamente ao serviço de saúde espanhol. A fronteira vai-se aproximando do litoral. Se tudo continuar na mesma, daqui a vinte anos temos a fronteira aqui ao pé, nos subúrbios de Lisboa e do Porto. Ou o sonho ibérico torna-se realidade sem derramamento de sangue. Ou melhor, só com o sangue perdido pelos portugueses que tiveram de cruzar a fronteira para serem tratados. E tudo porque em 2010, à meia-noite de 28 de Março, fecharam o Serviço de Atendimento Permanente de Valença. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:38

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