Sexta-feira, 16 de Abril de 2010

Não me lembro de alguma vez um governo autorizar uma tolerância de ponto e ter provocado tantos protestos e queixinhas. Também não me lembro de alguma vez se terem preocupado com o mal que faz à economia nacional um par de dias feriados extras. Mas, de repente, todos os ingratos que desde pequeninos aproveitaram as férias da Páscoa e usufruíram do espírito do Natal, agora revoltam-se contra os dois miseráveis dias da tal tolerância de ponto para os que queiram participar nas cerimónias presididas pelo Papa. O mais revoltante é que até se organizam em grupos insuspeitos como os trabalhadores do Estado. Um grupo apresentou um movimento no Facebook chamado “Trabalho para o Estado e não quero tolerância de ponto no dia 13 de Maio”. Não é segredo que todos os funcionários públicos, alguns mais que outros, até têm dias de férias que muita gente, que não tem o privilégio de trabalhar para o Estado, nunca gozará. Há pouco tempo descobrimos que os deputados começam o fim-de-semana nos crepúsculos das quintas-feiras. A indignação pública a esta revelação não provocou a mesma sublevação que agora se verifica com esta tolerância de ponto. Não ponho de lado a boa intenção, embora ingénua, destas pessoas que tão veementemente querem trabalhar no dia 13 de Maio. Sim, a situação do país não está para deixar trabalho por fazer ou descuidar as responsabilidades produtivas dos cidadãos. Mas julgar que por dois dias papais a situação vai piorar ou que por dois dias de trabalho normal vamos tirar o país deste charco financeiro, ora, por favor! Estão a brincar connosco. Este anti-clericalismo ou esta aversão ao líder da Igreja Católica são infantis e perigosos. A indignação por causa dos escândalos de pedofilia não se podem tornar birras anti-religiosas. Deve dar-se a oportunidade de as coisas se resolverem com a justiça eclesiástica e civil. E também acho que é perigoso promover o anti-clericalismo a movimento político ou apresentá-lo como atitude moral correcta. Simplesmente porque não está certo não deixar as pessoas acreditarem em paz nas suas famílias religiosas. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:39
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