Estou boquiaberto com o conselho do Presidente da Comissão Europeia. O nosso José Manuel Durão Barroso alertou numa entrevista ao jornal De Morgen que a «cacofonia de mensagens» ameaça minar a confiança na capacidade de os governos europeus lidarem com a crise da dívida soberana. Cacofonia pode significar sons discordantes ou a criação de uma palavra de mau gosto produzida pelo som do fim de uma palavra com o início da outra. Camões é muita vezes citado neste caso com o seu famoso “alma minha”. Nenhuma das duas acepções de cacofonia são apropriadas para a mensagem que Barroso quer transmitir. Não estou a ver como este último sentido se pode aplicar nas afirmações dos políticos. É difícil cacofonar com os termos da crise. Talvez se alguém perguntar ao Banco Central Europeu ou à senhora Merkl: “Quer uma mala?”. Mas duvido. No sentido mais aproximado, o de “sons discordantes”, é ofensivo para os líderes europeus. Não porque não o mereçam, mas porque não é o Presidente da União Europeia que deve ofender os tais governantes. Para isso cá estamos nós. Também não é exacto que sejam sons discordantes. Na verdade, só há só dois sons: o dos países que estão sem dinheiro e o dos países que ainda estão cheios dele. Mas sobretudo não são sons: são pedidos de desespero. Durão Barroso quis evitar este engano linguístico e, com mais precisão, apelou aos líderes governamentais para falarem menos, afirmando que «é, realmente, um problema ouvir tantas opiniões durante a crise» e afirmou num tom decidido: «apelo aos líderes políticos para estarem mais calados e deixarem os comentários para os comentadores, e perceberem que os mercados financeiros estão a ouvir». Pena não ter feito esta advertência há três meses! Bastava estarmos calados para as agências não descerem os ratings. Se a Grécia não tivesse posto a boca no trombone, a Irlanda podia ter liquidado a banca em silêncio e nós não tínhamos dado nas vistas com os PECs e o Orçamento. Ninguém tinha dado por nada. Macacos me mordam! Fora isso, tudo bem.