Quarta-feira, 29 de Dezembro de 2010

Publicada há mais de três anos, a lei que estabelece a obrigatoriedade de o valor das portagens pagas nas vias sujeitas a obras ser devolvido aos utentes de auto-estradas não deu lugar a um único reembolso. As razões desta injustiça são naturais. Para simplificar, direi que só as empresas responsáveis são obrigadas ao reembolso, não quando estão em obras, mas sempre que não acautelam esta situação e não dão alternativas de itinerários alternativos. O que significa, por outras palavras: nunca. Quando os automobilistas não ouvem o canal de rádio pertinente nem se preocupam em se precaver destas circunstâncias, é evidente que não podem esperar que a empresa faça justiça por dá cá aquela palha. Eu nem sabia da existência desta lei do reembolso. E até me parece muito civilizado que exista. Mas, por amor de Deus, desde quando é que um português acredita que seja aplicável? É só para estrangeiros que não têm tempo para andar para aí com requerimentos. Eu próprio sempre julguei que não estava legislado e, quando era apanhado por obras numa auto-estrada, atrevi-me a imaginar formas de compensação. Por exemplo, não cobrar quando as obras provocassem uma considerável descida da velocidade. Em caso de acidente, dar um bónus aos condutores pelo incómodo. Fazer uma happy-hour nas horas de trânsito reduzido. Pôr as portagens em saldo em cada mudança de estação. Por exemplo, os dias antes da ponte de feriados. Até aceitava um ligeiro aumento nas horas de ponta, na condição de reduzir drasticamente os preços nas horas de menor circulação. Comprometer-se a tornar gratuitos os troços de estrada em obras, se não terminassem no tempo previamente acordado. Carros com crianças podiam ter refeições de borla para habituar as crianças portuguesas a viajar de carro. Era uma maneira de fixar uma clientela futura. Enfim, ideias não faltam. E todas são melhores do que dar a falsa esperança de que os incómodos podem ser compensados com requerimentos agressivos de reembolso ou com queixas que só provocam rancor, perdas de tempo, expectativas frustradas. Era tão bom levar as relações entre concessionários e utentes a um nível mais humano. Seja como for, nunca perdem dinheiro. O estado, essa maravilhosa invenção, compensá-los-ia. Fora isso, tudo bem.



Publicada por Carlos Quevedo às 23:35
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