Quarta-feira, 6 de Fevereiro de 2008
Li num jornal com o título em grandes caracteres que os médicos ganham milhões em incentivos a fazerem transplantes. Este artigo condena os incentivos de certos profissionais, disfarçados de uma suposta ética superior. Eu explico. Há muitas injustiças na vida. Não ter saúde e ser feio são duas delas. Mas ganhar muito dinheiro ou ser incentivado por um trabalho difícil de realizar nunca se poderá incluir no vasto rol de injustiças a corrigir. Bons médicos e bons polícias nunca são suficientemente bem pagos nem pouco incentivados. Muita boa gente pode chocar-se com a minha inclusão de polícias na lista de incentivados. Mas se alguma vez se encontrassem com um gangue no meio de nenhures, bem podiam lamentar a falta de pessoal em tão nobre instituição. Logo a seguir pagava incentivos aos professores do ensino primário, que, no fundo, são uma mistura das duas profissões anteriores. E ainda lhes dava um bónus para cuidados psiquiátricos e mais um outro incentivo por sobreviverem aos fedelhos que tão alegremente nós concebemos. Também pagava incentivos a todas as pessoas só para ir e voltar ao trabalho, independentemente da profissão exercida. Enfim, ter pouco incentivo até é um conceito que pode ser objectivo. Basta somar os custos dos bens essenciais mais duas ou três coisinhas e resta aquilo que nos incentiva. Se não sobra nada, estamos feitos. Ganhamos mesmo pouco. Agora, estar bem incentivado é outra coisa completamente diferente: ninguém objectivamente pode afirmar a partir de quanto e fazendo o quê é que se está a ganhar muito. Com que valor merece ser incentivada uma pessoa que sabe como se implanta um fígado, ou aquela que depois de estar seis horas diárias com quarenta crianças malcriadas não comete infanticídio? Todo o incentivo é pouco. Fora isso, tudo bem.


Publicada por Carlos Quevedo às 23:28

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